Quando se trata de sustentabilidade, os líderes das empresas começam a ter a real noção que está na hora de passar da ambição para a execução, e essa é a parte complicada. As empresas sabem que precisam de descarbonizar e melhorar a sustentabilidade ao longo das suas cadeias de valor, mas muitas vezes têm dificuldade em traduzir essa ambição em resultados. E compreende-se porquê, uma vez que estão em causa uma combinação de fatores. Muitas vezes, há falta de clareza e planeamento detalhado, resistência à mudança e desafios na integração das iniciativas de sustentabilidade na estratégia da empresa. A medição e avaliação dos resultados são complicadas por dados inconsistentes e pela evolução das normas regulatórias. Além disso, a pressão por resultados financeiros de curto prazo, a falta de recursos e especialização e uma governança inadequada, podem limitar a eficácia das ações. Para superar estes obstáculos, é crucial adotar uma abordagem estruturada que inclua objetivos claros, planeamento rigoroso e um forte compromisso com a integração da sustentabilidade em todas as áreas da empresa.
A sustentabilidade pode ser um objetivo relativamente novo, mas os princípios fundamentais de qualquer transformação continuam a aplicar-se. Na última década, várias consultoras (como a HOZEN) trabalharam com centenas de empresas em vários setores e com uma variedade de objetivos de transformação – desde a eficiência operacional ao aumento do crescimento e à implementação digital. Com base nessa experiência, acreditamos que há pelo menos três grandes desafios que impedem as empresas de avançar numa transformação sustentável: 1) definir onde focar para obter o maior impacto, 2) como colocar o “motor” da transformação em funcionamento e 3) como financiar a jornada. Compreender estes desafios e aplicar princípios e abordagens testadas ao longo do tempo pode ajudar os líderes das empresas a começar a atingir os seus objetivos, em vez de apenas os definir.
Uma Necessidade Crescente de Mudança
O desempenho da sustentabilidade está (ou vai estar rapidamente) a tornar-se um barómetro do desempenho global das empresas. A consciência sobre este tema está a crescer entre investidores, clientes, colaboradores, fornecedores, reguladores e outras partes interessadas, e já não é suficiente focar-se apenas nos retornos financeiros. Não incorporar as questões climáticas e a sustentabilidade na estratégia e operações diárias de uma empresa resultará na perda de capital, clientes e talentos e, mais tarde ou mais cedo, também criará problemas regulatórios.
Em resposta, muitas empresas comprometeram-se com metas ambiciosas, como a neutralidade de carbono, mas apesar destas iniciativas serem louváveis, as empresas dedicam mais tempo a definir objetivos, a desenhar planos (muito) pouco concretos e realistas, e a comunicar que incorpora medidas sustentáveis do que a implementar medidas consistentes e impactantes. Na verdade, sabemos hoje que não cumprir uma promessa comunicada pode ser pior do que não a fazer, pois prejudica a credibilidade da empresa junto das partes interessadas.
A consciência sobre este tema está a crescer entre investidores, clientes, colaboradores, fornecedores, reguladores e outras partes interessadas, e já não é suficiente focar-se apenas nos retornos financeiros.
Transformações em larga escala de qualquer tipo são programas complexos que exigem grandes investimentos e esforços estruturados de implementação. Transformações sustentáveis são especialmente difíceis, por várias razões. As iniciativas muitas vezes abrangem várias unidades de negócio e funções, tornando o impacto mais difícil de quantificar. E, na maioria das vezes, a empresa não controla todos os fatores de mudança.
O sucesso requer colaboração ao longo de toda a cadeia de valor, desde os fornecedores de matérias-primas até aos clientes finais, e muitas vezes com coligações industriais e outras partes interessadas. As empresas precisam de tornar o seu negócio tradicional mais sustentável, mas também precisam de identificar e capturar novas oportunidades que emergem das questões de sustentabilidade e das alterações climáticas. Ambos os desafios exigem investimentos e novas capacidades, enquanto surgem novas soluções e tecnologias mais rapidamente do que muitas empresas conseguem acompanhar.
Além disso, as empresas enfrentam requisitos crescentes para comunicar publicamente o seu desempenho em sustentabilidade, mas os dados sobre sustentabilidade e clima são frequentemente inconsistentes e pouco fiáveis. As normas continuam a evoluir e algumas métricas desenvolvidas por agências de classificação e consultoras de referências podem ser demasiado arbitrárias, levando as empresas a focarem-se mais nas suas pontuações e menos na necessidade de uma estratégia abrangente que integre a sustentabilidade nas operações, produtos e serviços da empresa.
Apesar destes desafios, as empresas precisam de agir! Há um valor claro em jogo no que diz respeito a responder às novas exigências dos clientes, obter acesso a capital e mitigar riscos. As empresas ainda podem diferenciar-se através de um desempenho climático excecional, mas a janela de oportunidade está a fechar-se. Num futuro muito próximo, a sustentabilidade será um requisito básico.
O sucesso requer colaboração ao longo de toda a cadeia de valor, desde os fornecedores de matérias-primas até aos clientes finais, e muitas vezes com coligações industriais e outras partes interessadas.
Três Desafios da Sustentabilidade
O clima e a sustentabilidade tornaram-se indicadores do desempenho empresarial e as empresas precisam de agir para definir, planear e integrar esforços que abordem estas questões em todos os aspetos do negócio. E não há motivo para hesitar nem complicar, uma vez que implementar este tipo de mudança é consistente com os princípios básicos de transformação. Os líderes devem ser proativos, mas não precisam de começar do zero. Pelo contrário, devem compreender os desafios mais comuns e tomar medidas sistemáticas e estruturadas para os enfrentar.
Onde Devo Focar para Obter o Maior Impacto?
As equipas de liderança enfrentam frequentemente dificuldades para definir quais os aspetos do negócio que devem ser priorizados numa transformação sustentável. Para criar uma vantagem competitiva a partir de iniciativas ambientais, sociais e de governança (ESG), tudo deve estar em foco. As empresas necessitam de executar uma transformação profunda e abrangente, e não apenas um pequeno número de iniciativas isoladas, integrando ESG em toda a organização para promover uma mudança real.
Numa transformação climática e de sustentabilidade típica, algumas iniciativas e atividades concentram-se em tornar o negócio central mais sustentável, enquanto outras focam-se em impulsionar o crescimento através de alterações ao portfólio ou modelo de negócio. Quando todas estas áreas são abordadas de forma holística, a empresa tem maior probabilidade de construir com sucesso uma vantagem competitiva. Ao mesmo tempo, a transformação deve ser integrada nas transformações tradicionais que a maioria das organizações já tem em curso, como a implementação digital, a utilização de IA para melhorar a tomada de decisões, a melhoria do desempenho operacional ou a reestruturação da organização.
Como Colocar o Motor de Transformação em Funcionamento?
Como as transformações climáticas e de sustentabilidade são tão complexas, as empresas precisam de um motor de transformação para alcançar o impacto desejado e manter os resultados. Este motor de transformação requer capacitação da liderança, envolvimento das pessoas e garantia de execução (incluindo uma governança forte e supervisão apoiada por processos rigorosos e acompanhamento dos resultados).
Capacitação da Liderança. Os líderes devem estar alinhados, comprometidos e apoiados para transformarem os seus comportamentos. O coaching de liderança no início é crucial, juntamente com estruturas de incentivos que reforcem os objetivos da transformação. Em muitas empresas, o clima e a sustentabilidade são tópicos chave para os líderes de topo e Conselhos de Administração, mas essa urgência e consciência deve-se estender a todos os gestores da organização. Isso significa explorar formas de integrar KPI’s de ESG nos objetivos de desempenho e ligá-los à remuneração e incentivos, se necessário.
Envolvimento das Pessoas. As pessoas estão no centro de qualquer esforço de mudança. Os líderes precisam de garantir que toda a força de trabalho está envolvida, comprometida e claramente consciente da transformação necessária e sua abrangência. É igualmente importante comunicar como é necessário mudar o dia a dia de trabalho e fornecer ferramentas e oportunidades de requalificação para permitir essa mudança. Comunicações transparentes e consistentes são críticas para gerar entusiasmo na transformação desde o início e manter o impulso, com atualizações frequentes sobre o progresso, assim como a recolha de dados pode acompanhar o impacto das mudanças na forma como os colaboradores trabalham durante a fase de implementação. Na realidade, este é um processo igual a qualquer outro, que implique algum tipo de mudança comportamental.
Garantia de Execução. Dada a natureza transversal de muitas iniciativas e a complexidade inerente à medição do impacto, uma transformação sustentável requer ainda mais rigor na fase de execução do que uma transformação tradicional para melhorar o desempenho operacional da empresa. As empresas necessitam, portanto, de criar processos de governança, rotinas bem estruturadas e mecanismos para acompanhar os resultados das intervenções. Todos estes elementos devem ser coordenados por um gabinete de gestão da transformação que implemente infraestruturas de governança e acompanhamento das metas de sustentabilidade e financeiras. No final do dia, apenas o mix de objetivos será diferente dos de uma transformação tradicional – como, por exemplo, reduzir as emissões de CO2, além de melhorar o EBITDA.
Não cumprir uma promessa de sustentabilidade pode ser pior do que não fazer a promessa inicialmente, pois prejudica a credibilidade da empresa entre as partes interessadas.
Como Financiar a Jornada rumo à Sustentabilidade?
Normalmente, grandes transformações requerem a realocação de alguns recursos em toda a organização – incluindo a necessidade de algum investimento de capital, despesas operacionais e talento. No entanto, o montante total não precisa, necessariamente, de ser assegurado desde o início. Em vez disso, quantias menores podem ser alocadas nas fases iniciais e utilizadas para financiar as partes subsequentes do programa. Ganhos rápidos e sequenciados na ordem correta, podem tornar o esforço autofinanciável.
Esse mesmo princípio aplica-se a uma transformação sustentável: as empresas devem procurar gerar progressos rápidos desde o início, o que pode criar um impulso para medidas mais ambiciosas que demoram mais tempo a gerar resultados. Defendemos também a integração das iniciativas climáticas e de sustentabilidade em esforços de transformação contínuos – um programa abrangente que contemple o modelo operacional da empresa (sistema de excelência corporativo ou programa de melhoria contínua), com o objetivo duplo de melhorar tanto o desempenho empresarial quanto o de sustentabilidade.
Em alguns casos, as iniciativas irão melhorar o desempenho financeiro de curto prazo, bem como alcançar metas climáticas e de sustentabilidade a longo prazo. Consideremos o exemplo de uma empresa que deseja otimizar as suas operações de produção. Em vez de atuar em toda a organização de uma só vez, faz um investimento menor para otimizar a performance apenas das áreas “gargalo” e com grande consumo energético, o que gera um retorno claro sobre o investimento através de ganhos de eficiência e produtividade. Enquanto isso, a área financeira considera a eficiência energética e o uso de água do equipamento, aproveitando para mudar a fonte de energia para renováveis (que frequentemente são mais baratas do que a energia baseada em combustíveis fósseis e podem gerar créditos de carbono) – assegurando que a melhoria operacional é acompanhada de uma melhoria na sustentabilidade. Em todo este contexto, a empresa gerou economias suficientes através das melhorias efetuadas que serviram para financiar melhorias semelhantes noutros locais de produção ou noutros setores da empresa.
Em resumo, as empresas estão a estabelecer metas ambiciosas de clima e sustentabilidade, mas não alcançarão esses objetivos sem um processo de transformação formal e estruturado. Existem vários desafios comuns, mas cada um tem uma solução concreta. Os mesmos princípios que sustentam transformações bem-sucedidas para melhorar o desempenho empresarial aplicam-se também às transformações da sustentabilidade. Com esta percepção, as empresas podem começar a transformar a sua ambição de sustentabilidade em ações concretas e criar um futuro mais verde para o mundo.
Fontes: Informação parcialmente retirada de artigos publicados pela consultora BCG (Boston Consulting Group)
Artigo da autoria de Rui Jorge Silva – CEO da HOZEN Consulting | Inspiring People to Drive Excellence