Produtividade

Produtividade em Portugal: a culpa é da mão de obra?

De quem é a culpa da baixa produtividade do trabalho em Portugal? Da mão de obra? Sim, mas é só um dos fatores. Falta também maior Eficiência dos fatores produtivos e maior capacidade para criar Valor.

Não sou economista, pelo que trazer números macro ou microeconómicos e simplesmente comentá-los pode parecer especulação ou tendencioso. A opinião aqui expressa é meramente uma “opinião”, de quem anda pelo terreno e sente os impactos deste tema no dia a dia das organizações e ouve dezenas de gestores.

O valor da produtividade sobretudo a de um país) é algo complexo, que naturalmente não resulta de uma ou duas causas isoladas e tem, pelo contrário, múltiplas determinantes interrelacionadas. É fácil simplificar e apontar a culpa à legislação laboral ou à capacidade da mão de obra – causas que vamos vendo apontadas com frequência – mas que são apenas partes de um todo mais complexo.

 Independentemente de concordarmos ou não com muito do que se escreve e diz, a culpa da baixa produtividade não pode continuar a viver solteira, mas há um fator a ter em conta sempre: Temos de ser mais exigentes connosco e… com os outros!

Tendo em conta que a produtividade condiciona a competitividade, o crescimento de uma economia e o aumento dos padrões de vida da população, este é um assunto de extrema relevância. Mas afinal trabalha-se assim tão mal, em Portugal? Pode Portugal ser mais produtivo?

Para se tentar elaborar uma resposta a esta pergunta é fundamental começar por se definir o que é, afinal de contas, a produtividade. Em primeiro lugar, há que ressalvar que a produtividade é um conceito complexo e com múltiplas perspetivas possíveis. Adicionalmente, a produtividade pode ser analisada a diversos níveis, nomeadamente ao nível da empresa, conjunto de empresas e países. De uma forma simples e ao nível de uma empresa, a produtividade pode ser entendida como o quociente entre o que a empresa produz (output) e o que ela consome (input). Assim, a produtividade representa a eficiência com que se usam os recursos para produzir produtos/serviços.

Uma empresa que fabrique bicicletas terá uma produtividade de trabalho que resulta do cálculo do número total de bicicletas produzidas a dividir pelo número de trabalhadores, num espaço de tempo. O exemplo permite-nos perceber que o volume produzido está dependente de outros fatores para além do trabalho dos funcionários. As instalações da empresa e as condições físicas do trabalho, as máquinas e ferramentas usadas na produção, as próprias matérias primas, o nível de investimento em desenvolvimento de processos produtivos e dos produtos, as tecnologias usadas, a organização do trabalho, entre outros fatores possíveis, vão naturalmente influenciar o impacto da capacidade de produção. Portanto, a produtividade do trabalho reflete, de forma parcial, a eficiência do fator trabalho – seja em termos de capacidades dos trabalhadores ou da eficiência do seu esforço.

Uma outra perspetiva sobre a produtividade tem em conta os valores de mercado. A produtividade do trabalho, de um determinado país, pode ser medida baseada no PIB, que representa o valor de mercado de todos os bens e serviços produzidos, num ano, nesse país. A produtividade bruta do trabalho será o quociente entre o PIB e a população empregada. Esta forma de medição usa uma lógica de agregação de valor: é tida em conta toda a produção de um país, a preços de mercado. Não estamos a falar apenas de eficiência de fatores produtivos, mas também do valor criado.

Um exemplo simples: se uma empresa desenvolver uma nova tecnologia para bicicletas de competição e criar uma marca sob a qual apresentará os novos produtos ao mercado conseguirá, possivelmente, oferecer algo diferenciado dos seus competidores. Existirá então um valor maior na sua oferta ao mercado. Este diferencial de valor contribui, como é fácil de entender, para a produtividade, pois o output da empresa será contabilizado a preços de mercado e incluirá um valor que não existiria sem a marca e a inovação tecnológica. Fica evidente que um aumento de produtividade pode também ser o resultado da criação de valor. E isto funciona tanto a nível de uma empresa, como na agregação de todas as empresas, a nível nacional.

De quem é então a culpa da baixa produtividade do trabalho em Portugal? É da mão de obra? Atendendo ao exposto, a resposta parece ser um ‘sim’ e um ‘não’. Sim, a mão de obra é um dos fatores produtivos e, portanto, faz naturalmente parte do cálculo da produtividade. Contudo, é apenas um dos fatores e nesse sentido a culpa da baixa produtividade vai, claramente, muito para além da mão de obra.

A produtividade do trabalho está dependente da forma como os fatores de produção são organizados, dos montantes de capital e da forma como estes são investidos na produção (e, já agora, do acesso a financiamento), da competência dos empresários, e das condições que o Estado cria à atividade destes e das suas empresas. Adicionalmente, a produtividade é o resultado também do valor agregado que se consegue criar.

Temos, em Portugal, investimento em investigação e desenvolvimento de qualidade, capacidade de inovação, e marcas fortes que permitem criar valor? Com certeza que temos. Contudo, temos de ter mais disto tudo para sermos mais produtivos, visto que a produtividade bruta do trabalho é um valor agregado que apresenta uma média. Um futuro com melhor produtividade está necessariamente assente numa maior eficiência dos fatores produtivos, mas também – e ao mesmo tempo – numa maior capacidade para criar valor. Este é o complexo desafio que (todos) enfrentamos.

Na maioria dos fóruns digitais em que se fala de produtividade, vemos um apontar do dedo frequente a temas padrão: “país de baixos salários”, “condições de trabalho deficitárias”, “somos bons, mas lá fora”, “falta de visão das chefias de topo”, “altos impostos”, “banca dificulta crédito”, “pouco suporte ao investimento”, “leis laborais”, etc, etc. Se concordo? Com tudo! Mas, o que posso fazer com isso? Qual a minha parte na equação e como contribuo? Apontar o dedo é o que de melhor sabemos fazer!

A verdade é que, com os governos e as leis que temos, com o sistema bancário que temos, com os apoios ao investimento que temos, com os baixos salários que temos, também temos excelentes empresas portuguesas com altíssima Produtividade!

Sejamos humildes e contribuamos com o que de melhor podemos dar – Eficiência e Valor às nossas empresas, aproveitando todos os recursos que temos à disposição. Não temos outros… E estamos em Portugal.

Recordando algo que escrevi recentemente, “para sermos Excelentes é preciso definir um Propósito (Missão), ter uma Estratégia, um modelo de Gestão eficiente, Processos bem montados e grande investimento na capacitação e motivação das Pessoas (o maior ativo de qualquer organização)”.

Autor: Rui Silva (CEO DA HOZEN) com a participação e excertos publicados pelo Prof. Fernando Pinto Santos (Docente do IPAM e membro da letsthink.global)

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